Além do mito/monstro - Alê Oliveira



Uma das maiores sensações da ESPN no momento, Alê Oliveira dispensa comentários. Carismático, e irreverente, o comentarista mostra que, além do bom humor, também manja muito do riscado. Isso por possuir bastante experiência dentro e fora das quatro linhas no futebol. Conversamos com ele e trazemos na íntegra a seguir:

1. Você é muito irreverente no que faz e diferente da maioria dos comentaristas. Mistura bom humor e leveza com futebol de uma maneira sensacional. Como surgiu essa ideia de “informalizar” os as vezes massivos debates futebolísticos na televisão?

Na verdade esse tom informal, é o tom que eu converso futebol em todos os ambientes. Não sei fazer de outra forma, então é aquela resenha da pelada, do bar, a conversa que todo mundo tem na rua. Eu tenho um pensamento de que futebol é entretenimento, o primeiro nome da ESPN é entretenimento, então eu tento da melhor forma possível, dar essa cara para o meu trabalho, mas é de uma forma absolutamente natural que isso acontece.

2. Quando mais jovem, já foi atleta de futsal, futebol de campo, treinador e agora é comentarista, além de ser formado em educação física. Porque não conseguiu seguir carreira dentro/na beira do campo?

Eu jogava futebol e futsal na base do Palmeiras, quando me transferi ao Moinho Água Branca que era um forte time de futsal na época, abandonei o futebol, jogando apenas no salão. Foi aí que entrei para a faculdade de educação física, porém mesmo antes disso, virei entregador do direito da USP, no Largo São Francisco com 18 anos. Até os 26 anos eu era jogador profissional de futebol de salão e treinador (desde os 18), fui conciliando. Quando parei de jogar, entre 1999 e 2000, foi quando virei comentarista dos canais ESPN, mas continuei como treinador até 2014. Então o combo de todas as atribuições se tornou um atrativo particular meu, comentarista de futsal da ESPN, treinador de várias faculdades. Então a junção de todas essas coisas se tornou algo mais interessante que se tornar um treinador de futebol de campo ou algo do gênero, por isso acabei seguindo por este caminho.

3. A maioria das pessoas costuma lembrar de você por conta do humor e dos famosos decretos das sextas feiras. Nunca passou pela sua cabeça que talvez subestimem o seu conhecimento futebolístico por conta das piadas e tiradas engraçadas? O que você tem a dizer para quem acha isso?


4. Como dito acima, você foi jogador de futsal. Acha que procede a afirmação de que a escola do futsal ajuda muito a quem sai do futsal e vai para o campo? Temos inúmeros craques que são naturais do futebol de quadra e que hoje se destacam em meio ao relvado.

A escola do salão é fundamental né. Em um passado distante a várzea costumava formar muitos jogadores bons para o futebol de campo, o raciocínio rápido, tomada de decisão, tudo isso em um campo irregular que mesmo acarretando muitas lesões. Hoje como já não temos muitos campos de várzea, o futsal vem ocupando esse espaço. O problema é que há muita rivalidade entre o campo e o salão, a maioria dos clubes deveriam ser parceiros e nem sempre isso acontece. O prejuízo disso é enorme para o futebol brasileiro, as duas modalidades deveriam obrigatoriamente andar juntas. Me recordo de um projeto do Barata (supervisor de futsal do Santos), onde ele dividia a carga de trabalho dos atletas entre o salão e o campo, até os 13 anos treinavam 4 vezes no salão e 1 no campo, até os 15 eram 3 vezes no salão e 1 no campo, até os 17 muda para 4 vezes no campo para 1 no salão e assim por diante. Assim o time foi campeão da Taça São Paulo, da Copa do Brasil sub-20. Esse é o caminho, não tenho dúvida.
Natural e espontâneo, o jeito leve já é dele de essência.
5. Hoje, o Palmeiras se consagra com mais um título nacional. Entretanto, muita gente ainda critica o modo de jogar do time, fato que gerou uma discussão calorosa na ESPN esses dias. Como você vê essa situação? O Palmeiras vem sendo realmente subestimado ou a crítica é válida de fato?

Bom, o Palmeiras é o campeão com todos os méritos do mundo, o time tem números impressionantes, chegou sim em alguns momentos a jogar o futebol mais agradável do campeonato durante o primeiro turno e depois foi o time mais eficiente, mais correto, além de ter bons jogadores e um treinador dedicado que trabalha muitas situações táticas do jogo. Até mesmo em função do calendário e muitos dos nossos melhores jogadores não estarem mais jogando no nosso país, não se consegue ter um time que jogue bem durante toda uma temporada, é só relembrarmos os últimos campeões. O Corinthians chegou a ser muito questionado no ano passado, o Cruzeiro também teve uma queda de rendimento principalmente contra seus grandes rivais, ganhou poucos clássicos nacionais. Então são momentos muito interessantes e até mesmo plásticos e depois você só administra, no futebol brasileiro você descansa no campo, jogando. Tentar diminuir os méritos do Palmeiras é um equívoco enorme, o Palmeiras é campeão com toda a justiça até porque enfrentou adversários muito poderosos. O Flamengo foi um time muito forte durante boa parte do campeonato, o Santos tem um grande time titular, embora não tenha um elenco tão recheado e já o Galo tem o elenco mais rico do futebol brasileiro. Para desmerecer esse título teríamos que diminuir todos os rivais que foram concorrentes durante o campeonato.

6. Apesar de trabalhar em uma emissora de TV, não é jornalista de formação. Começou comentando futsal e foi subindo aos poucos, como você analisa essa sua crescente no canal? Imaginava um dia ser um dos principais comentaristas?

Agradeço a bondade por me considerar um dos principais comentaristas do canal. É, as coisas aconteceram de forma natural, fiquei muito tempo no futsal, demorei bastante até começar a fazer os jogos de futebol e aparecer nos programas, quando tive a oportunidade de ser efetivo nas edições do bate bola eu tentei agarrar da melhor forma possível, amo o que eu faço e tento transmitir essa alegria. Todas as vezes que acende a luz vermelha eu estou no ar né, então mesmo eu não sendo jornalista ou ex-jogador como muitos lá da ESPN foram. Procuro viver cada dia intensamente e tentar passar para quem tá em casa que eu realmente curto estar ali, no debate com as pessoas que eu gosto, falando de futebol. Acho que isso ajuda bastante.
Alê em seu início, comentando futebol de salão.
7. Você treinou um time universitário, pegando este gancho, talvez o Brasil não pudesse aproveitar mais os esportes universitários como trampolim para atividades esportivas profissionais? Como acontece com a NBA por exemplo, como somos uma nação de dimensões continentais, um investimento de integração massiva pelo esporte com direito a ligas, e campeonatos de ponta no objetivo de formar atletas valeria a pena? Conflitaria com a base dos clubes?

O modelo americano é o ideal né, lá, inclusive, muitas vezes a categoria de base já é do próprio colégio e assim sucessivamente até chegar na faculdade quando quem vai se tornar profissional vai embora. É o modelo ideal porém está muito, mas muito distante da nossa realidade, aqui a educação é muito deficitária então essa integração com o esporte fica comprometida. Se não há nem educação, como aliar ao esporte? É muito triste, mas é utópico falar desse modelo para o Brasil no momento.

8. Quem deveria vencer o prêmio de melhor do mundo? Porque?

A disputa ainda é entre dois jogadores. Cristiano Ronaldo e Messi e eu ainda fico com o argentino, embora respeite bastante a carreira do português, acho ele um jogador maravilhoso e enquanto os dois tiverem em plenas condições físicas e técnicas, a disputa será apenas pelo terceiro lugar. Mas ainda sim, vou de Messi.

9. Recentemente a CBF aumentou a premiação do campeonato brasileiro, dividindo mais de 60 milhões entre os clubes. O detalhe é que, os 4 rebaixados foram excluídos da divisão pela confederação, que vai premiar apenas os 16 clubes restantes. Na sua opinião isso é justo?

Não, na minha opinião todos que participaram do campeonato deveriam receber uma premiação, mesmo aqueles que foram rebaixados. É um equívoco da CBF, um erro de avaliação até porque o time que vai disputar a Série B também irá precisar se estruturar. Se você participou do campeonato, então merece receber algum valor.
Para o comentarista, a CBF errou.
10. O novo técnico da seleção vem sendo elogiado por todos os veículos de imprensa pelos seus resultados e pelo futebol visto, acha que Tite teria espaço em algum gigante europeu? Faz tempo que não vemos um técnico brasileiro com destaque no velho continente.

Não tenho dúvidas que o Tite tem conhecimento suficiente para dirigir qualquer time grande do futebol europeu, talvez a barreira seja o idioma. Ele precisa se preparar, dominando o idioma seja ele inglês, italiano ou espanhol, ele tem espaço e capacidade para dirigir qualquer gigante do futebol europeu.

11. A tecnologia no futebol é um tema que traz muito debate, na sua opinião, é necessário que se tenham recursos tecnológicos para ajudar nas decisões dentro do campo?

É fundamental o uso da tecnologia, já até passou da hora. Na verdade já temos essa interferência em alguns momentos do campeonato brasileiro, não de forma oficial, de uma maneira velada. Então acho que pode ajudar bastante.

12. Foi um prazer para nós do 4-3-3 realizar esta entrevista. Assim como seu colega de trabalho, Eduardo Affonso (confira), você se mostrou bastante solícito a nós. Use este espaço para fazer suas considerações finais, um grande abraço!


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