Precursora e presidente - Rafaela Escalante


O cargo de presidente de clubes de futebol, além de carregar a imponência que o título sugere, é envolto por uma aura quase folclórica. Vários são os nomes que compõem o imaginário brasileiro quando se trata do cargo máximo da diretoria de um time. Dentre os inesquecíveis, estão figurões como Eurico Miranda, Andrés Sanches, Paulo Nobre e Juvenal Juvêncio.  Em comum, eles possuem a personalidade marcante, uma certa malemolência adquirida após anos nos bastidores do esporte - associada, quase sempre, à avançada idade -  e, claro, são homens. Em meio a esse ambiente de cartas marcadas e rostos semelhantes, o diferente sempre chama atenção. É o caso de Rafaela Escalante. A acreana que, aos 26 anos, tornou-se presidente do Plácido de Castro, clube do qual é conterrânea, disse que ainda causa surpresa aos colegas:

“Muitas pessoas me abordaram após a minha eleição para o cargo de presidente, mas sempre com o intuito de me ajudar, seja dando dicas ou colaborando de alguma forma para minha gestão. Diante disso, eu reconheço o quão importante é eu estar aqui. A maioria dos presidentes de clubes são homens e mais velhos. É tudo muito interessante, um grande desafio, mas eu encarei e estou pronta para transformar o clube e fazer com que ele fique bem estruturado”

Apaixonada por futebol, Rafaela apóia o Plácido de Castro muito antes de ser sua presidente. Como muitos de nós, ela começou nas arquibancadas, ainda em 2008, ano em que o Tigre deixou de ser um clube amador e passou a integrar o primeiro escalão dos clubes acreanos. Dona de uma mente inventiva e um coração fanático, vez ou outra se pegava imaginando as transformações que faria no clube se ganhasse na loteria e o comprasse.  Esse sonho, extremamente comum entre torcedores do mundo todo, era tão corriqueiro que virou brincadeira na roda de amigos. Como a verba não caiu do céu, Rafaela – que parece ter gosto pela fama de precursora -  tratou de apoiar o time com o dinheiro e a disposição que tinha. Juntamente com o namorado e dois amigos, criou a “Fanáticos Plácido”, torcida organizada, cujo nome é inspirado pelos perrengues sofridos para assistir aos jogos:

“A gente alugava ônibus, fretava carro para ver o Plácido jogar na capital do estado. Em 2009, quando passei a morar em Rio Branco para fazer faculdade, ficou um pouco mais fácil assistir aos jogos, mas como ninguém era maior de idade, pegávamos condução para ir ao estádio. Tínhamos que sair de casa duas horas antes para poder chegar a tempo do jogo. Começamos a brincar dizendo que, pra fazer isso, só sendo muito fanático mesmo. Foi daí que surgiu a ideia de criar o “Fanáticos Plácido”, a torcida organizada do Plácido de Castro, que existe até hoje”. 
Antes das salas de reunião da presidência, Rafaela acompanhava seu clube das arquibancadas, local que frequenta até os dias de hoje.

Todas essas histórias podem dar a impressão de que a jovem acreana é uma amante de futebol que deu a sorte grande de gerir seu time do coração. No entanto, engana-se quem acha que “tudo são flores” nos bastidores dos gramados. Rafaela mudou-se das arquibancadas para as salas de reunião da diretoria e, uma vez lá, se viu a frente de um time mal organizado e repleto de dívidas. Graduada em Administração e seguindo carreira na área, ela teve que adaptar seu conhecimento teórico e prático à rotina maçante e peculiar do esporte:

“Meus conhecimentos na área de administração estão sendo muito utilizados. O clube estava um pouco bagunçado e precisava de gerencia. Estou conseguindo reorganizar essa parte com a ajuda dos meus colegas de diretoria. Eu conheço e gosto muito de futebol, mas existem situações do dia-a-dia do clube que a gente só aprende com o tempo e com o auxílio dos mais experientes”.

Com idéias frescas e força de vontade de sobra, cabe agora à presidente tomar de vez as rédeas do clube, controlar os gastos e investir em boas iniciativas, como o Sócio torcedor, criado em 2015, mas pouco valorizado pela baixa adesão do ano passado.  A nós, resta torcer para que as melhorias realizadas por sua gestão surtam os resultados desejados e que o simpático Plácido de Castro consiga seu lugar ao sol. Por sorte, de mudanças positivas e conquistas merecidas Rafaela entende: na ânsia de inovar seu time, deu cara nova ao futebol.

“O principal problema do futebol é o egoísmo. Quero ser um exemplo de postura diferente. As pessoas tem pensado muito em si próprias, querendo tirar vantagem das situações em que se encontram. No entanto, o bem só acontece quando pensamos no coletivo. Então desejo aos leitores do blog que, seja lá o que forem fazer, façam com amor e desejando ajudar ao próximo de verdade!”
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